quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Saudades do amigo Victor Muanis


Querido amigo Victor, Agradeça a Deus cada momento que compartilhamos sua presença. Saudades.



2 comentários:

Severino Neto disse...

Cópia da mensagem de 12/02/2009:
"Querido amigo Victor,
Ontem foi o dia da Colação de Grau de grande parte de seus grandes amigos: Abrahão, Bernardo, Gustavo, José, Mariana, Paulo, Pederassi, Renan, Ricardo, Rodrigo, Tiago e Vinicius, com a presença de muitos Navais que já colaram e que colarão grau. Antes da solenidade, reli a bela e emocionante mensagem que você me enviou no dia 19 de abril de 2008 e asseguro o sigilo que você pediu. Com muita dificuldade, pois, como se fosse possível, a admiração de todos que o amam aumentaria ainda mais.
Estamos passando momentos difíceis tentando entender seu rápido retorno ao lado de Deus, de onde na verdade nunca deixou de estar. Nossas reações são variadas, buscando a solução de uma equação que não existe.
Confesso que na aflição da tragédia reli minha edição amarelada da “Divina Comédia” de Dante, “por não ser um tratado de filosofia e moral, e sim um poema. O que há de filosofia, ou de moral, na Comédia, é substância que ele utilizou e que ele moldou, com a sua suprema potência de poesia, para produzir arte”. Busquei o Canto III do Inferno, onde Dante lê e dá, no seu poema, a inscrição que na porta ele imagina existir. Considera-se, após sete séculos, que nenhum artista concebeu, para a porta do Inferno, inscrição mais certeira, mais sintética e mais definitiva, terminando com o verso: “Deixai, ó vós que entrais, toda a esperança”. Não tive condições de ir ao seu enterro.
No momento de sua missa, de cama e com febre alta, pedi a Deus, mudo e longe de nossos amigos que sofriam comigo, que iluminasse uma mensagem. Imediatamente, com lágrimas nos olhos, retorno à Divina Comédia e percebo minha cegueira. Abro-a então nos versos 22 a 25 do Canto VII do Paraíso, e no último do Canto XXXIII: “À fantasia aqui valor fenece; Mas a vontade minha a idéias belas, Qual roda, que o motor pronta obedece, Volvia o Amor, que move sol e estrelas.”
Fica agora maior a nossa responsabilidade: a do Tiago Palermo em continuar sendo a dupla do sorriso, competência e amor, a de uma turma unida entre Navais já unidos, e de toda uma Escola Politécnica que ontem o homenageou com salvas de palmas, um minuto de silêncio, palavras do Diretor, camisas com seu nome e um belo poster de seu sorriso, buscando mostrar aos que se julgam “Patinhos Feios” que são apenas Cisnes em fase de transformação.
Obrigado por seu exemplo de esperança e amor. Agradeça mais uma vez a Deus, por nós, a sua eterna presença em nossas vidas.
Com o amor de sempre,
Severino"

Severino Neto disse...

Cópia da mensagem de 15/12/2009:
"Revisão das Notas de compaixão a lágrimas dos Cisnes de todas as cores (com correção de um grave erro: a inclusão de um NÃO cuja ausência mudava todo o sentido)
Queridos amigos e amigas da Naval e Oceânica,
As lágrimas de uma querida aluna e amiga no corredor próximo à sala Eng.Victor Muanis na última sexta-feira permanecem em minha mente. Mesmo NÃO crendo que foram de origem dolosa, provocaram-me compaixão por todas as lágrimas navais derramadas em 2009.
Em meu aniversário de 2006, fui convocado para uma palestra num curso de extensão da UFRJ no centro da cidade para uma turma pequena e muito peculiar, formada por operadores de lastro de meia idade: um judeu, um católico, um espírita, um muçulmano e um evangélico. Fui presenteado na hora do almoço com belos símbolos de cada uma das religiões, quando em nossa respeitosa conversa o aluno evangélico comentou com o amigo judeu que eles tratavam mal suas mulheres. Como elegante resposta ao comentário, recebemos todos o seguinte trecho do Talmud, que já tive oportunidade de encaminhar aos navais no mesmo ano: "Cuida-te muito em fazer chorar uma mulher, pois Deus conta as suas lágrimas. A mulher foi feita da costela do homem, não dos pés para ser pisoteada, nem da cabeça para ser superior, senão do lado para ser igual ... debaixo do braço para ser protegida e do lado do coração para ser amada".
Reli o trecho do romance de Milan Kundera, “A insustentável leveza do ser”, que no mundo do eterno retorno, cada gesto carrega o peso de uma responsabilidade insustentável, que levava Nietzsche a dizer que a idéia do eterno retorno é o mais pesado dos fardos. Segundo Parmênides, no século VI antes de Cristo, o universo está dividido em pares de contrários, em pólos positivo e negativo. O romance questiona o que é positivo, o peso ou a leveza, e apresenta significados distintos para a palavra compaixão: com a raiz passio, “sofrimento” ou com o substantivo “sentimento”, destacando que a força secreta de sua etimologia banha a palavra numa outra luz e lhe dá um sentido mais amplo: ter compaixão (co-sentimento) é poder viver com alguém sua infelicidade, mas também é sentir com esse alguém qualquer outra emoção: alegria, angústia, felicidade, dor, designando, portanto, a mais alta capacidade de imaginação afetiva, a arte da telepatia das emoções.
Mesmo antes de ocupar o cargo de coordenador pela primeira vez em 1998, eu já recebia em minha sala as lágrimas de alunas e alunos atingidos por palavras perdidas, intencionais ou ingênuas. É possível que o tiro de um colecionador de armas nervoso com o barulho de um bar na Lapa em janeiro de 2009 tenha causado sem intenção nossas incontroláveis lágrimas. Na tragédia grega escrita por Sófocles, Édipo não sabia que dormia com a própria mãe e, no entanto, quando compreendeu o que tinha acontecido, não se sentiu inocente. Não pôde suportar a visão da infelicidade provocada por sua ignorância, furou os olhos e, cego, deixou Tebas.
Venho agradecer aos queridos amigos e amigas navais aos inúmeros momentos de carinho, orações, compreensão e compaixão mútua por nossas lágrimas de 2009, pedindo a Deus, sinceramente, que nossas palavras e ações nunca se comportem como balas perdidas na mente e no coração de ninguém. “O peso da vida, para Kundera, está em toda forma de opressão. O romance nos mostra como na vida, tudo aquilo que escolhemos e apreciamos pela leveza acaba bem cedo se revelando de um peso insustentável. Apenas, talvez, a vivacidade e a mobilidade da inteligência escapam à condenação”. Ausente de todas as
comemorações de final de ano, sinto-me cada vez mais presente e próximo a todos vocês.
Mais uma vez, um feliz Natal e um feliz naval 2010, com o amor e respeito de sempre,
Severino"